Ainda que já tivessem se passado quase oito anos desde que Adanya havia sido adotada por sua nova família, que a recebeu e tratou com muito mais amor e carinho do que ela poderia esperar em seus melhores sonhos, muita coisa em sua memória permanecia viva, aliás, bem mais viva do que ela gostaria que estivesse.
Os pesadelos não paravam e por mais que Adanya tentasse encontrar uma razão para que continuasse a tê-los de forma tão intensa e real, mesmo depois de tantos anos de uma vida nova e feliz, não conseguia encontrar nenhuma. Apenas se acostumou com eles, pensando que deveriam ser apenas uma consequência natural produzida por seu subconsciente, por conta do horror do qual tinha conseguido escapar de maneira inacreditável, quando criança. E assim ela continuou pensando, até a noite em que o sonho recorrente, que até então havia sido sempre igual, terminou de forma bem diferente e surpreendente.
Como sempre acontecia, Adanya acordou banhada em suor, mas dessa vez não sentia o coração acelerado, a ponto de sair pela boca, e nem aquela terrível sensação de pavor, que sempre tinha sentido após o pesadelo, que por sua vez, se repetia, pelo menos, uma vez por semana, mês após mês, ano após ano. Então, no dia seguinte, logo de manhã, ela ligou para o pai e disse que ele poderia marcar sua participação no programa de rádio da igreja da qual ele e a mãe eram membros, mas que ela tinha deixado de frequentar desde que não era mais criança.
– Tem certeza querida? – Disse o pai, surpreso com o fato da filha ter mudado de ideia de forma tão repentina. – Eu não quero que se sinta pressionada a fazer isso, meu amor.
– Tá tudo bem, pai – Respondeu Adanya, tranquila, confiante e em um português praticamente sem nenhum sotaque, que ia perdendo a cada novo ano. – Pode marcar, eu preciso fazer isso. Só diz pra eles que prefiro fazer daquela forma, gravando primeiro, sozinha, pra que depois eles coloquem no ar. E já vou desligar, pai, porque sei que agora o senhor está trabalhando. Só liguei porque era importante. Um beijo! Eu te amo!
– Também amo você minha filha – Disse o pai antes de desligar, enquanto tentava imaginar o que teria levado Adanya a mudar tão radicalmente de ideia, em tão pouco tempo.
A igreja logo marcou a data da gravação, para dali a dois dias, pois os líderes tinham muito interesse em contar a impressionante história da menina como um testemunho no programa de rádio, que ia ao ar, ao vivo, na internet e em muitas rádios locais, de todas as cidades em que havia filias da instituição.
Adanya chegou na igreja na hora marcada, sendo logo conduzida por um dos obreiros para a sala acústica em que os programas de rádio eram gravados e transmitidos. Se é isso o que o Senhor quer de mim, por favor, vai precisar me ajudar. Não sei nem por onde começo e nem se consigo falar sobre tudo aquilo. Me ajude! Pensou ela, já sozinha na sala e diante do microfone, aguardando apenas que a luz verde se acendesse para que começasse a falar.
A luz acendeu, mas Adanya ainda demorou alguns minutos para falar alguma coisa. E quando começou, já o fez com lágrimas saltando dos olhos. Ela disse:
– Meu nome é Adanya, tenho dezessete anos e nasci em um pequeno vilarejo, no noroeste da Nigéria. Meus pais e meus dois irmãos trabalhavam cultivando a terra, que tínhamos atrás da nossa casa. Eu até os ajudava, às vezes, quando era preciso, mas costumava ficar mais em casa, colaborando com as tarefas domésticas, porque ainda era muito nova – Disse ela, com voz embargada, porém nítida e perfeitamente compreensível.
– Toda o vilarejo era cristão, inclusive, me lembro bem de todos os domingos, de manhã, quando íamos a pequena igreja, que ficava no centro, perto da praça. Nossa vida não era fácil, mas também não era ruim, pois tínhamos o que precisávamos para sermos felizes. – Nesse momento ela hesitou, olhou para o teto, respirou fundo e continuou:
– Acho que se eu falasse só sobre o tipo de vida que tínhamos, já haveria muitas lições que os cristãos brasileiros poderiam aprender, pois vocês reclamam demais, tendo tantas coisas, enquanto eu via meu povo ser feliz e agradecido com tão pouco – Nesse momento o técnico de som e o obreiro responsável por acompanhar a gravação, que viam e ouviam tudo do lado de fora do estúdio, entreolharam-se e cochichando, decidiram que podiam deixar que ela continuasse, pois se, por acaso, falasse algo que não fosse adequado, poderiam editar depois, visto que não se tratava de uma transmissão ao vivo, mas de uma gravação a ser reproduzida posteriormente, como ela mesma tinha pedido que fosse.
– Mas o que eu tenho pra falar, infelizmente é muito pior. – Disse Adanya com certa resignação na voz e após uma pausa, continuou – Eu não queria estar aqui falando nada disso e vocês vão entender o porquê. Só que primeiro eu preciso contar um sonho que tenho tido, toda semana, desde que cheguei ao Brasil.
Pr. Raphael Melo
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P.S.2: Esse é um trabalho de ficção que visa despertar os cristãos brasileiros.
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Uma lição de vida onde ao invés de reclamar, agradecer.
Uma história de fé e amor… uma história que mostra o poder de Deus em nossas vidas… As pessoas tem q entender q o sistema religioso não salvará ninguém… o q realmente salva é o que leva ao ensinamento de Jesus Criso, é o amor, o respeito, o fazer sem esperar o retorno, os joelhos no chão, e sentir, verdadeiramente, a presença de Deus, com o coração limpo, sem mágoa, ódio, tristeza, rancor, egoismo… Agradeço a Deus, em nome de Jesus Cristo, meu Salvador, por essa oportunidade de ler e aprender mais um pouco.