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A Menina dos Olhos de Deus – PARTE FINAL

Se você não leu a primeira parte desta história, por favor, clique aqui para lê-la antes de ler esta segunda parte!

– O pesadelo é sempre igual, desde a primeira vez que o tive, há oito anos, até hoje, em 2024. Nele, eu estou, invariavelmente, no meio de uma fumaça densa e escura. Não consigo enxergar nada e só sinto o calor do fogo se aproximar cada vez mais de mim. Só que não posso fugir, pois não sei para onde ir, por estar sem enxergar quase nada, no meio da fumaça – Disse Adanya, começando a contar seu sonho recorrente. – Então começa o cheiro de queimado, parecendo cheiro de carne queimando. Aí vêm os gritos, o calor cada vez mais intenso e quando começo a sentir que minha pele vai queimar, acordo apavorada, com o coração saindo pela boca e banhada em suor, com muito calor, mesmo com o ar condicionando ligado no quarto.

Nesse ponto a jovem fechou os olhos e por alguns segundos se esforçou para segurar as lágrimas. Então prosseguiu:

– Bom, depois volto a falar desse sonho. Agora vou contar a minha história. Ainda me lembro daquele dia. Era terça-feira, eu estava com nove anos e tinha ficado sozinha em casa, porque meus pais e irmãos estavam trabalhando na colheita de grãos, de onde voltariam logo, pois já estava quase na hora do almoço – Adanya fez mais uma pausa, como se em sua mente, viajasse até aquele momento, no passado. – Lembro que era um dia muito quente, como costumam ser os dias naquela região da Nigéria. Assim que terminei de preparar o almoço, ouvi os primeiros tiros. Aqueles barulhos nunca saíram da minha cabeça. Foram muitos os disparos e logo o som deles se misturou aos gritos desesperados das pessoas, e ao forte cheiro de queimado, que era trazido pelo vento e entrava na janela da minha casa, que ficava um pouco afastada do centro do vilarejo.

A moça parou mais um pouco, bebeu um gole de água da garrafa que tinha trazido consigo e retomou a história, que já deixava sem palavras o obreiro e o técnico de som, que viam e ouviam tudo, do outro lado do vidro:

– Isso aconteceu em 2016, quando o Boko Haram, que é um grupo terrorista aliado do Estado Islâmico, causava cada vez mais estragos no meu país. Eles invadiam vilarejos, como o meu, e cometiam atrocidades tão impensáveis, que chegam a ser indescritíveis. Tudo o que a televisão e a internet mostraram e mostram é apenas uma pequena parte do horror que ocorre quando se está ali, ao vivo. E eu vi isso. Eu vivi isso. Eu sobrevivi a isso – Adanya deixou cair uma lágrima – Porque naquele dia o Boko Haram invadiu o meu povoado.

Nesse momento o pai de Adanya, que tinha saído do trabalho e ido para a igreja, por não conseguir ficar tranquilo, sabendo que a filha estava sozinha naquele momento difícil, havia chegado e se colocado ao lado dos outros dois expectadores, que já estavam imóveis e muito atentos ao que aquela menina de dezessete anos dizia.

Como se pudesse sentir a presença do pai, ela olhou na direção do vidro e sorriu, sorriu como uma menina que se sente segura, perto do pai. Então disse:

– Eu não quero fazer disso um quadro de detalhes muito extenso, tanto porque tenho certeza de que não aguentaria, quanto, principalmente, porque Aquele que me pediu para vir até aqui não deseja que o foco seja esse. – Disse ela, com o olhar levemente perdido em suas recordações – Por isso vou tentar ser clara e direta, contando o que aconteceu, antes de dizer a vocês a razão de eu estar aqui.

– Quando eu me dei conta do que estava acontecendo, saí de casa e assim que passei pela porta, pude ver a fumaça e toda a confusão que acontecia no centro do povoado. Aliás, eu imaginei que os homens armados só não tinham chegado até minha casa, ainda, porque, como eu disse, ela ficava um pouco afastada da área central. Por isso pensei que demorariam um pouco para chegar até nós, então fui correndo até a plantação, a fim de avisar minha família e para aproveitarmos a oportunidade de fugir em direção a uma região de mata mais fechada, que ficava perto de onde estávamos e, ao mesmo tempo, na direção oposta de onde certamente eu acreditava que eles tinham chegado, pela estrada principal. Mas eu me enganei. Quando cheguei ao campo, meu pai estava caído, ainda com a enxada nas mãos, pois, com certeza, havia tentado defender minha mãe e meus irmãos. Ele não tinha mais cabeça, apenas uma massa vermelha e branca acima do pescoço, um estrago causado pelos tiros de fuzil. Essa foi a última vez que vi meu pai, o nome dele era Enzi e ele era cristão. Minha mãe estava nua, certamente por ter sido violentamente estuprada, e com a garganta cortada. Essa foi a última vez que vi minha mãe, o nome dela era Nikaule e ela era cristã.

– Me apavorei ainda mais ao perceber que eles não tinham vindo só da estrada principal, mas que tinham, na verdade, cercado o vilarejo, chegando por todos os lados. Olhando em volta, ali, sozinha e desesperada, sem ter para onde ir e sem saber o que fazer, eu os vi por toda parte, com suas roupas camufladas ou pretas, de armas na mão e com seus rostos cobertos de preto. Dezenas, ou melhor, centenas deles, por todos os lados.
Nesse ponto, ainda que Adanya tivesse tudo para chorar ou titubear, outra coisa aconteceu. Seus olhos ganharam uma estranha determinação e uma força diferente, que parecia ter vindo sobre ela, fazendo com que cada palavra soasse muito mais cheia de significado e força. E ela foi adiante:

– Meus dois irmãos já não estavam ali e eu nunca mais voltei a vê-los, apesar de saber depois, pelo noticiário internacional, que tinham sido decapitados na praça central, por terem se negado a abandonar Jesus Cristo e a se juntar ao Boko Haram, em sua insana gerra santa, na qual cometem atrocidades em nome de quem chamam de deus. Um dos meus irmãos tinha quatorze anos e o outro tinha quinze. Eles eram cristãos. Eles se chamavam Barack e Akanni. – Adanya tomou mais um pouco de água e continuou. – Então eu vi que a cerca de quinhentos metros de mim, na direção da praça, havia várias crianças sendo reunidas, dentro de uma enorme jaula. E antes que eu pudesse pensar no que aquilo significava, eles jogaram gasolina e queimaram-nas, de recém-nascidos a crianças de dois, três, cinco, dez anos; meninos e meninas. Com as pernas travadas, sem conseguir correr, fiquei ali, olhando, por mais um minuto e vi que a todo momento uma nova criança era trazida e jogada dentro da jaula, literalmente, para alimentar a fogueira. Eu não consigo descrever isso com mais detalhes, penso que vocês podem tentar imaginar o que é assistir a isso. Da mesma forma, vi que eles queimavam aqueles que tentavam fugir, que eram, em sua maioria, mulheres e também crianças. De repente, eu constatei que o cheiro de queimado que eu havia sentido pela janela, quando ouvi os tiros, não era de casas incendiadas, mas era das crianças queimando. Havia, pelo menos, mais cinco jaulas, em pontos diferentes, como grandes fogueiras, com crianças sendo queimadas vivas. Isso sem contar os pontos isolados de fogo, que eram dos meninos e meninas que queimavam, junto das mães, em suas fracassadas tentativas de fuga.

– Só então eu percebi que seria a próxima e isso só não aconteceu porque aquele homem estava lá – Disse ela, apontando para o pai, que não parava de chorar, do outro lado do vidro. – Ele era médico de uma organização chamada Médicos sem Fronteiras e estava no povoado apenas para comprar algumas frutas. Senti um forte puxão e quando me dei conta, estava nos ombros de um homem. Quando pensei que estava indo para o fogo, me debati e chorei, desesperada. Então o homem me disse que queria ajudar e me tirar de lá, tentando, com dificuldades, falar a minha língua. Depois disso não me lembro de mais nada, não sei se foi o estado de choque ou qualquer outra coisa. Na verdade, até hoje não sei como saímos dali, pois meu pai nunca me contou e eu também não perguntei, porque não importa, o que importa é que Deus me deu um pai maravilhoso, no mesmo dia em que eu perdi meu outro pai, que também era maravilhoso. – Ela sorriu e pela primeira vez, naquele dia, era um sorriso radiante, de felicidade, derretendo-se ao olhar para o pai mais uma vez, através do vidro. – Só me lembro de acordar no acampamento dos Médicos sem Fronteiras e de, todos os dias da minha vida, tentar esquecer de tudo isso.

– Cheguei ao Brasil e tive uma família maravilhosa, que faz parte desta igreja. Mas desde que fiz doze anos, decidi parar de frequentar os cultos, sem ao menos saber a razão, pelo menos até àquela noite em que falei que o meu sonho recorrente terminou de forma diferente. No fim do sonho, o homem mais doce e amável que já encontrei em toda minha vida, apareceu na minha frente e mesmo que eu não pudesse ver seu rosto, por causa da fumaça, me disse para aceitar o convite e dar o testemunho aqui, coisa que sempre neguei, até então – Neste momento o olhar de determinação de Adanya se acentuou ainda mais – Eu não queria contar nada disso porque o testemunho que querem de mim não fala do mesmo Jesus que me apareceu no sonho e que meus pais e meu vilarejo serviam, e por quem morreram. Vocês queriam usar minha história para trazer pessoas para os templos que possuem e não para que o Nome dEle, que foi quem me salvou, fosse glorificado. Vocês possuem templos cheios de conforto, moram em casas que parecem palácios, se comparadas as casas do meu país, mesmo a maioria dos mais pobres daqui, nas favelas, vivem vidas de ricos, se comparadas a tudo o que eu vi do outro lado do oceano. E vocês querem mais, querem prosperidade, querem riquezas, querem cura, querem namorados, querem casar, querem comprar um carro, querem bençãos e mais bençãos, o que na verdade significa apenas que querem que Ele dê a vocês tudo o que desejam. Estão sempre reclamando e a maioria nunca está satisfeita, feliz e agradecida com suas próprias vidas. Vocês não sabem o que é sofrer por Cristo, não têm a mínima ideia do que é participar de suas aflições e Ele quer que saibam disso; e é por essa razão que Ele me mandou vir aqui e contar minha história.

– Os seus líderes só querem mais dinheiro, ou para enriquecer ou para criar mais poder, querem estar no rádio e na televisão. Querem ganhar o Brasil para Cristo, quando se esquecem das coisas mais simples da vida e do Evangelho verdadeiro de Jesus. Não! Eu jamais daria meu testemunho de vida para o serviço de vocês e desse sistema religioso, baseado no poder e não no verdadeiro Jesus, que eu aprendi a conhecer na Nigéria e que, apesar de ver na vida dos meus pais adotivos, sinto que esteja longe da maioria dos seus cultos e reuniões.

Adanya se levantou e antes de pegar suas coisas e sair, inclinando-se para o microfone, disse:

– No sonho, o homem segurou minha mão e disse que meu nome significava “a filha do pai” e que mesmo que eu tivesse perdido meu pai, não deveria ficar triste, pois tenho o Pai celestial, que está acima de tudo e de todos; também porque tive um pai adotivo fantástico e porque meu pai, Enzi, está com Ele, no paraíso, esperando para me abraçar. Você é Adanya, Ele disse, com um sorriso na voz, filha de três pais.

Adanya saiu abraçada ao pai e no carro conversavam sobre como seria quase impossível que a igreja colocasse o que ela disse no ar. Por fim, chegaram a conclusão de que isso já era com Deus e também de que precisavam procurar outra igreja, ou mesmo um grupo de cristãos, que realmente desejasse glorificar e servir a Jesus. Ela disse, feliz, que a um lugar assim teria muito prazer em ir.

É claro que o obreiro que ouviu tudo, ainda que tenha se emocionado com a história e a mensagem, tomou as providências para avisar ao pastor, que por sua vez, deu ordens para que a gravação não fosse ao ar e que fosse imediatamente protegida no cofre da igreja, o que foi feito de imediato.

Contudo, uma semana depois, inexplicavelmente, a gravação caiu na Internet, viralizando rapidamente em todas as mídias sociais, com milhões e milhões de acessos, gerando reflexão e sendo um grande instrumento para a obra do Espírito Santo nos corações dos que a ouviam.

Oito anos antes…

Em uma noite chuvosa de sábado, Marcelo, o técnico de som, que em 2016 tinha onze anos, por um descuido dos pais, assistia uma notícia de um dos massacres que o Boko Haram tinha promovido na Nigéria, inclusive com cenas fortes de cadáveres de crianças que tinham sido queimadas vivas.

E de volta a 2024, assim que Adanya saiu do estúdio, com o pai, já imaginando que o obreiro avisaria ao pastor, Marcelo correu para fazer uma cópia do áudio e garantir que a história da menina fosse ouvida por todos, ainda que fosse pela Internet…

Pr. Raphael Melo

P.S.1: Por favor, se você gostou dessa história, comente abaixo, compartilhe-a agora mesmo no Facebook e seja instrumento de Deus para que mais pessoas sejam tocadas por essa mensagem. Muito obrigado! 🙂

P.S.2: Esse é um trabalho de ficção que visa despertar os cristãos brasileiros.

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2 Comentários. Deixe novo

  • Me senti um grao de areia insignificante pequena diante de tamamha fe.o ser humano em seu egoismo esquece sempre de ser grato pelo que tem ,somente lembra de.pedir bençao e.acumular bens ,perdao meu Deus por sermos tao pequenos e pobres de coraçao e.amor ao proximo .

    Responder
  • Dalveniza Sousa Domingues
    3 de março de 2016 12:27

    Isso não é uma lição de vida, pois não é real, mas pode ser uma lição para a vida.Conhecer,seguir e respeitar a palavra de Deus é essencial para uma vida plena sem ser mutilado em sua crença pelos falsos profetas, usurpadores da fé dos cristãos.

    Responder

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